Hans Blumenberg (Teoria da não conceitualidade, p. 139) escreve que “A retórica é o contrário institucionalizado da filosofia”. Há nisso uma divergente caracterização da filosofia, que busca a verdade, a origem e a essência, e a caracterização da retórica como busca de convencimento ou persuasão, mesmo que com sacrifício da verdade e com largo emprego de metáforas, reduzindo enganosamente o raciocínio à verossimilhança e à não demonstração, produzindo aceitação por sedução estética. Filosofia e retórica, nesse sentido, têm conflituosa convivência. Nos diálogos platônicos, a retórica é exposta como lugar comum do convencimento sem conhecimento, da metáfora em lugar da razão, caindo o sofista, inevitavelmente, em contradição, com o que resta demonstrada sua inanição em conhecimento da verdade. Técnica discursiva para plateias específicas, a retórica não convence quem, dotado de conceitos bem estruturados, se posta ao lado do conhecimento da verdade.