Tudo que é, tudo que hoje é, esteve presente em potência no passado. Por ser hoje, a potência passada se nos apresenta hoje como se sempre tivesse existido, mesmo em algum momento passado em que, de fato, não era distinguível ou vislumbrável em sua latência. O acrescentamento de algo à realidade, algo voltado para o futuro, é a possibilidade Quando a possibilidade de ontem se transforma no ser de hoje, deixa a latência e passa à realidade Como realidade hoje, a possibilidade de ontem é por nós percebida como se sempre tivesse existido daquela maneira, com aquela configuração que a percebemos, até que a morte a extinga da realidade, nos iludindo, como se a realidade de ontem nunca tivesse existido como presente, mas somente como passado, como memória. É assim que, apresentados ao porteiro do prédio, o enxergamos sem o seu passado de motorista, jardineiro, zelador. Quando nos lembramos dos nossos avós já mortos, parece que sempre estiveram mortos em nosso passado e que sua vida não foi presente em nossas vidas. Nós somos presente nas vidas dos nossos filhos; talvez, sejamos apenas passado nas vidas dos netos que ainda não temos, sem jamais sermos presentes para eles. Essa ilusão permite a continuidade da vida e a superação de traumas. Se assim não fosse, haveria apenas melancolia.