A política tem mais reflexividade ou mais reciprocidade? Fosse o mundo ideal, a reflexividade dominaria a política, pois a razão imperaria. No entanto, a despeito do reconhecimento do logos como distintivo humano, a contemplação e a reflexão não predominam no cenário político, tradicionalmente reativo e retributivo, calcado em noções de antagonismo e rejeição, escolhendo facilmente a retribuição, tantas vezes desproporcional, com rotulação de reciprocidade, como norma de conduta voltada ao imediato. Reciprocidade deixada a critério de quem retribui não é sinônimo de justiça, senão na boca de quem a pratica e diz.
O afastamento da contemplação e da reflexão como prévias à decisão política e à ação, por consequência, serve a propósitos de alarde reativo e não à construção de equilíbrio social. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o hábito irrefletido da maioria, com busca de alterações radicais, ruptura institucional e revolucionária, formam o alarido do que se denomina como “baixo clero político” e que a minoria contemplativa e reflexiva, preocupada com um ambiente social equilibrado, duração e respeito às instituições, com reformas pontuais e programadas, forma uma cultura política pensante e consequencialista a que se pode denominar “alto clero político”.
As posições de poder variam entre baixo e alto clero político, mas as construções políticas dominantes e duradouras tendem a ser do alto clero ou por este assumidas e apropriadas, a não ser quando se rebaixa e corrompe. Assim foi Suméria, assim foi Egito, assim foi Atenas, assim foi Roma, assim foi Inglaterra, assim tem sido o predomínio político e econômico dos Estados Unidos da América, assim promete ser a China como próxima potência mundial em afirmação. Assim foram as instituições dominantes em cada tempo e espaço. Mas é relevante a alternância nos postos de poder para que tanto o alto clero quanto o baixo clero, rebaixando-se e corrompendo-se, não corrompam inteiramente as instituições, o poder e os povos.