Ao discorrer sobre pessoas, coisas, fatos, atos, conceitos, possibilidades de etimologias ocorrem, a sugerir a indagação: de onde surgem as palavras e seus significados? Esta é uma pergunta central feita por Platão no diálogo “Crátilo”, discorrendo por seus personagens duas respostas e um desdobramento, que pode ser considerado como terceira resposta. Assim se articulam Hermógenes, Crátilo e Sócrates. Para Hermógenes, as palavras e seus significados são convenções; para Crátilo, relações de natureza, as palavras expressam a natureza daquilo a que se referem; para Sócrates, nem sempre convenções e nem sempre relações de natureza. Das muitas implicações que o diálogo oferece ou tem potencial para oferecer, se adotamos a postura de Sócrates, uma é ensejar a possibilidade de afirmar em falso (algo que os sofistas, com certa tortuosidade, inadmitiam por razões específicas e evidentemente ligadas às possibilidades de seus ganhos), o que ocorre quando a representação (palavra) não guarda correspondência com o que se pretende representar (pessoa, coisa, status, função, ânimo, fato, ato, intenção). Para objetos materiais, a correspondência ou a dissonância talvez pareçam mais evidentes ou óbvias, embora a história registre tantos casos em contrário (Galileu bem o diria). Quando se tem em mente conceitos ou seu entrelaçamento com fatos, atos, pessoas e ideologias, o campo da falsidade é rico e fértil, sendo tantas vezes difícil identificar.
