Do alto da serra,
gritei e não havia ninguém para ouvir,
somente o vento batendo nas folhas
e nos troncos das árvores
e respondendo para mim.
Gritei novamente,
tentando retribuir,
e não havia ninguém para ouvir,
somente os bichos seguindo suas vidas,
independentes de mim.
Mergulhei em um lago
e o silêncio tomou conta de mim,
não havia ninguém por testemunha
e senti que poderia morrer em paz.
Tornei do fundo e respirei mais uma vez.
Um vento soprou dentro de mim
e só eu mesmo era testemunha
desse momento de vida e alegria em solidão,
admirando as cores do céu no fim da tarde.
Falo ao tempo que corre
dentro e fora, antes e após,
falo a um tempo que não defino
e que trará o último dia quase em sussurro,
de fora para dentro de mim.
Falo ao tempo que não me pode ouvir,
mas que atende o desejo de seguir em frente e não voltar,
mesmo que adiante aguarde-me o fim.