O místico e o indizível, comunicando-se por meio do inefável, participam do sentimento do mundo, são experiências personalíssimas que não encontram apoio em princípio algum, porém fora de toda racionalidade, dir-se-ia tratar-se de experiência suprarracional (Pierre Hadot, Wittgenstein e os limites da linguagem, p. 13), é propriamente uma situação de êxtase. A ausência desse êxtase sacrifica a possibilidade do sentimento do mundo ou, melhor dizendo, sacrifica o sentimento do mundo como desejo e alicerce da vontade de viver. Um dos motivos de crise de vontade de viver de grande parte da população, na atualidade, é o sentimento do mundo desvestido do êxtase, do inefável do suprarracional, do místico e do indizível como presença certa e reconhecida na existência da pessoa que se fez, portanto, melancólica e depressiva. Falta à humanidade atual a experimentação do mundo como acontecimento milagroso, como acontecimento místico, indizível, que nos lança à vida, assim como o sentimento de que a vida é viabilizadora de uma pluralidade de mundos, a possibilidade de cada um consigo mesmo e com o outro. O outro é parte inefável do mundo místico, cuja revelação dá sentido à vida e traduz o sentimento do mundo. Essa é uma postura que exige uma apreciação desinteressada do mundo, vale dizer, o mundo não pode ser visto como mercadoria, como consumível, para que o sujeito não enxergue a si, enquanto participe do mundo, também como consumível, como mercadoria cujo sentido é servir, esgotar-se, findar; esse sentimento tão mesquinho do mundo faz do outro e de si consumíveis, fruíveis por um transcendente desconhecido e intocável, torna vazia a vida, torna vazio o mundo, atrai a morte como solução.