Jacques Le Goff (Por amor às cidades, pp. 86/88) discorre sobre o cortejo de São Luis, no século XIII, por cidades nas quais o intento não era eliminar ou mitigar a pobreza, mas mostrar essa pobreza para valorizar sua caridade. Manter a pobreza para o pobre, possibilitando a caridade oficial do rei de França, era uma estratégia. Mesmo hoje, muitos políticos fazem carreira mostrando sua preocupação e iniciativas que não produzem efeito mitigatório da pobreza, porém asseguram a manutenção do estado de coisas para tornar notória sua preocupação cidadã, face moderna da caridade oficial. Além da nomenclatura, pouco ou nada mudou em favor dos pobres nos últimos mil anos, na Europa como em suas ex-colônias. Se São Luis usava as ordens mendicantes, hoje são utilizadas ONG’s para o mesmo propósito: manter os pobres na pobreza e mostrar preocupação com sua dignidade, mas sem nada alterar significativamente no cenário geral da sociedade.