O acúmulo de riquezas, com a consequência de grandes diferenças entre as pessoas, algumas sendo proprietárias de terras (meio de produção) e larga maioria como trabalhadores da terra, foi possível somente com a sedentarização proporcionada pela agricultura e métodos de armazenamento de alimentos. A história de José, tomada como alegoria ou como fato, a depender da inclinação do leitor, é exemplar, pois teria alterado o destino do Egito e propiciado tempos de riqueza e acumulação. Esse acúmulo de riquezas e desigualação repercutiu entre povos e nações, os existentes e os florescentes, como decorrência do processo civilizatório permitido e incentivado pela agricultura, pelo contato entre culturas e pelo sistema de trocas assim fomentado.
Entre povos nômades, as diferenças de riqueza e de comodidades entre pessoas eram relativamente poucas, pois tudo haveria de ser carregado com esforço próprio ou em animais, o que limitava muito as possibilidades de acumulação. Entre povos sedentarizados, com o desenvolvimento da agricultura e incremento do comércio, adensamento demográfico e especialização de funções sociais, as diferenças de riquezas e comodidades entre pessoas são enormes. É certo que ainda existem povos nômades, mas em caráter de exceção, pois a vida citadina é largamente difundida, constituindo a regra entre humanos.
Estaríamos dispostos, em nome de maior igualdade entre pessoas e povos, a renunciar aos favores do sedentarismo, e tudo que implica, para retornar às dificuldades do nomadismo, diminuindo as possibilidades dos tratamentos de saúde e a expectativa de vida, abandonando o estilo alimentar, alterando os métodos de ensino e de comunicação, subordinando-nos à insegurança de quem não tem endereço fixo e negócios estáveis, expondo-nos mais diretamente às flutuações do tempo? Tudo isso, quando se pensa seriamente em igualdade e riqueza, parece muito pouco provável.