Deus desconhecido

É possível falar validamente de Deus? É tão possível quanto discorrer sobre algo que se desconhece completamente. O que está fora da possibilidade de conhecimento e de compreensão não pode ser dito, pois dizer implica nominar, o que implica conhecer, ainda que incompletamente, e conhecer implica ter o objeto de conhecimento à disposição, seja fisicamente seja intelectualmente, podendo experimentá-lo e submete-lo ao método de quem o analisa para conhecer. Deus não se submete ao homem, Sua inteireza está além do descortino humano, pois está além do universo sensível, além do universo presumível e imaginável, está fora do universo e, portanto, fora do alcance humano. É possível reconhecer a existência de algo (Deus, energia primal, fonte do universo, o nome que se queira muito imperfeitamente atribuir) que sirva de origem a tudo, a tudo que nos envolve, mas é justamente essa externalidade que faz ou traz a impossibilidade de conhecimento humano. O que não está sujeito à finitude do tempo e do espaço, às limitações do ser ou a qualquer categoria que o conhecimento humano possa conceber está além da possibilidade humana de conhecimento, mas pode ser reconhecido como algo que é, puramente é e nada mais do que é; não há sequer recursos linguísticos para dizer o que é, razão pela qual apenas podemos aceitar, em redução linguística, que é, embora até essa afirmação seja imperfeita, mas não podemos dizer o que é, não nos é dado tocar sua intimidade, estar em sua intimidade, mas apenas reconhecer. Ao reconhecido, com toda limitação e imperfeição linguística a que estou humanamente submetido, digo que é Deus.

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