Toda política, mesmo a que se pratica em nome da igualdade, tem por pressuposto desigualdades diversas, desde o direito de expressão até o acolhimento ou desacolhimento do que expressa, de quem se expressa e em que posição e condição o faz. A política não é arte de igualdade e nem de produção de igualdade, ela se faz na desigualdade (natural ou civilizatória, material ou intelectual, filosófica ou científica, verdadeira ou falsa), pode iludir igualdades, mas é produtora ou reprodutora de antigas ou de novas desigualdades.
O possível, em política, é iludir ou desencantar, pois há sempre os que podem manifestar e os que devem calar, os que contam e os que não contam, os donos do poder e os que lutam para alcançá-lo, os que pensam ser protagonistas e os que efetivamente usufruem do poder. A desigualdade política deriva da desigualdade humana; não há como produzir igualdades com desiguais, apenas há como atenuar indignidades; no mais, é iludir ou desencantar.