Cultura, civilização e sociedade

Cultura, civilização e sociedade, conceitos que quase se identificam, posto que onde há cultura ou civilização há sociedade, forçosamente. Há quem identifique cultura e civilização, conforme a tradição alemã, e há quem as distinga, conforme a tradição antropológica, com Lévi-Strauss à frente. Na perspectiva antropológica, culturas seriam frutos de sociedades sem maior diferenciação de papeis, propensas à igualdade, onde conflitos de classe não são característicos e a adesão de seus componentes ocorre com repetição e tradição, pouco ou nada se alterando na sucessão de gerações (Fernand Braudel: Gramática das Civilizações, tradução Antônio de Pádua Danesi, 4ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 2024, p. 38).

As sociedades atuais são caracterizadas por alta especialização e diferenciação de atividades, havendo graus de importância reconhecidos no concerto social, com diferenças notáveis entre classes, a ponto dessas diferenças serem o motor de aceleração de transformações consistentes e tão desejadas; o conflito social ou de classe é ínsito e fundamental a nossa sociedade, que se diz civilização, algo além da cultura.

Culturas convivem melhor em pequenas sociedades, podendo até constituir enclaves em civilizações, que têm como característica a cidade (quanto maior e mais contraditória a cidade, maior a certeza da civilização). Mas sociedade não é conceito idêntico ao conceito de cultura ou de civilização, embora ande de mãos dadas com ambos.

A velocidade da civilização é mais lenta do que a velocidade da sociedade ou da cidade. Se a sociedade se encorpa, assume formar cidades, se diversifica em especializações técnicas e serviços, aprofunda diferenças entre atividades, pessoas e classes sociais, e propicia conflitos sociais agudos, deixa o seio da cultura para assumir a civilização.

No fundo de toda civilização estão as culturas, convivendo como enclaves essenciais.

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