Cores de Rugendas

O Rio sempre teve múltiplas cores,

mas as de Rugendas

são as que mais me impressionam,

pela realidade e pela fantasia,

sentimentos puros e elaborados,

rural e urbano nascente,

como sua roupa de praia

sugerindo que a desvende.

 

Um tom jamais vivo como Kandinsky,

mas algo que imagino entre a areia e o mar,

penetrando o intervalo entre o tecido e a pele,

salgando levemente.

 

Cena alveolar,

plena dos ares que enchem seus pulmões

e que desejo tanto provar,

um bafejo de espírito juvenil

que apenas posso imaginar,

tudo preciso ao detalhe

e ainda assim de uma nitidez oitocentista

que a mim me parece afirmativa de literatura

que ainda não encontrou suas próprias palavras.

 

Poderia ser,

e na minha mente certamente era,

Vinícius a cantarolar

o prazer estético de existir

naquela circunstância incomunicável.

 

Um gingado em curvas,

como silvos percorrendo o continente

até esbarrar no Curral Del Rey

e ficar em desfalecimento gentil,

um encanto aos ouvidos

que os olhos percebem.

 

Entre as penhas de Cláudio Manuel

estão belezas mineiras

que ares atlânticos dificilmente descortinam,

senão quando comparecem

descendo montanhas

para ganhar rumos da capital colonial.

 

As vilas do ouro produziram

muito mais que o metal

e suas meninas revelam,

ainda hoje,

o espanto das mulheres

às margens dos cursos d’água,

com suas crianças ao colo

e recato nunca desinventado.

 

Se é alucinação sertã,

de emoção cumulada

de muitos varões lusitanos por aqui perdidos,

se é miragem mourisca,

de violência e conquista

de espíritos pretensos e ascendidos,

o passado não mo diz.

 

Sei de mim

com braços estendidos por amores

que juram e acredito,

são atemporais e infinitos.

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