Contaminação

Minhas ideias não são minhas, eu as colho ou capto de alguém e as contamino com algo de mim. São sem autoria, mas afirmo serem minhas; pura vaidade. Ouvi dos meus pais os primeiros sons que identifiquei com algum significado, copiei sua intenção e acrescentei um choro, algo que já fazia quando incomodado. Dominei a custo a arte da fala, sem muito entender nos primeiros anos, e a arte da leitura, com maior custo ainda; escrever exigiu mente e corpo em coordenação diferente da fala. Imaginei que adultos riam para mim, e crianças também; muitas vezes, aprendi, riam de mim, eu era a piada em toda iniciação e eles se lembravam do quão ridículos foram na mesma idade; o riso condescendente era arrefecimento de uma vergonha que as crianças não sentem, a não ser pouco a pouco, quando se lhes vai incutindo. Esse mesmo processo vai se repetindo a vida inteira. Hoje, escrevo ideias alheias contaminadas com algo de mim, ainda quando penso ser inovador, criativo e original, porque nada vem de mim, tudo em mim se contamina para ser devolvido e, depois, colhido ou captado por alguém que terá o desafio de identificar um significado, uma intenção, e acrescentar seu choro, sua mais contaminada expressão..

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *