Pronunciamento proferido por ocasião do Dia Estadual e Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto e aos 80 Anos da Libertação do Campo de Extermínio de Auschwitz, em 27 de janeiro de 2025
A cada povo sua história, sua dignidade, participação na odisseia da humanidade. No decurso de milênios, quantos povos ascenderam e decaíram, sucumbiram por fraqueza própria e de seus dirigentes, por serem vencidos na guerra e na opressão, por injustiças diversas e por não cumprirem preceitos fundamentais de justiça, liberdade e misericórdia? Quantos povos foram difamados, esquecidos, ultrapassados, privados de seguir adiante por serem apegados ao que não os projetou ao devir?
Há um povo que poderia ter sucumbido à escravidão no Egito, a 40 anos no deserto, aos inimigos de sua presença na terra prometida, à destruição repetida do Templo, à perseguição por impérios, à condenação de não ter base territorial, à discriminação onde quer que estivesse, à difamação histórica, a conversões forçadas, à criminalização de sua religião e de seu modo próprio de ser. Esse povo não sucumbiu. Cada representante seu levou consigo as histórias de Abraão e Moisés, os ensinamentos dos profetas, a Torá e uma cultura vasta, um passado unificador e o sentimento de Nação. Esse povo é destinado à sobrevivência e ao exemplo do melhor na humanidade.
Reparos temos de fazer em favor desse povo, vítima da injustiça quando o parâmetro de sua vida é fazer justiça, vítima de difamação e calúnia quando seu modo é dizer a verdade, vítima do mal quando seu dever e pregação é fazer o bem, vítima da atrocidade, da segregação, do confinamento e da subtração da vida quando seu amor professa a liberdade. Há um fato histórico recente que não deve ser jamais esquecido, abrandado, relativizado, ignorado ou desconhecido: a perseguição de um povo por ser o que é: construtor de verdades, liberdades, justiça e da prática do bem, mas por isso mesmo vitimado por calúnia e difamação, por violação do que diz Levítico 19:16 ao proclamar censura a toda difamação, calúnia e mexerico.
Desde que uma desigualdade se impôs entre pessoas e povos, quando se passou a vindicar razão e superioridade, apenas uma solução se apresentou e raramente foi cumprida: tolerância! Sim, conviver com o diverso e respeitá-lo nessa diversidade, a diversidade da palavra, a diversidade que nos distingue na Criação. Se não há entre humanos uma língua perfeita, há para cada humano uma linguagem que se encaixa perfeitamente em seu credo íntimo, seja ela razão, ciência, fé ou religião. Somente com respeito à desigualdade de entendimento e de identidade se alcança justiça e provê liberdade.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por mim representado nesta oportunidade por expressa delegação de seu presidente, Desembargador Luiz Carlos de Azevedo Corrêa Júnior, cioso de que o inominável não deve se repetir, não pode e não será esquecido, homenageia a comunidade israelita em Minas Gerais e o povo judeu em todo o mundo, pelo muito que tem de história e memória como legados à humanidade.