Amor latino-germânico

Se nas línguas neolatinas a letra “m”, que lembra sucção, pois junta os lábios e os coloca adiante, como faz o recém-nascido para mamar, nas línguas germânicas o amor, com sua sucção, se diz “love”, “liebe”, com um “l” bem pronunciado e que remete ao ato de lamber, algo que igualmente remete ao seio materno, de onde o leite não mamado escorre e é lambido. A língua, na sucção como na lambida, é órgão de prazer sensorial, na criança como no adulto, na amamentação, na lambida, na libido, no amor entre mãe e filho como no amor carnal, entre adultos, tudo podendo ocorrer na cama. Não se esqueça de que lácteo tem origem no grego e que a Via Láctea, a galáxia, flui do peito da deusa grega Hera, e que lácio, do latim, pode ser tanto leite quanto laço, enlace, sendo a “última flor do lácio”, na poética, a língua portuguesa. Mamar, amamentar, ligam-se a sugar, como “love”, “liebe”, “lick”, remetem a lamber (“lick” é, literalmente, em inglês, lamber). Seja em línguas neolatinas como em línguas germânicas, sugar e lamber, “m” e “l” se fazem presentes no amor, no mamar, no amamentar, na libido, no leite (“milk”), tudo remetendo à língua como órgão satisfativo, sensual, como em luxúria, lisonja. O gustativo e o sexual andam juntos no mesmo órgão. (Ivonne Bordelois, Etimologia das paixões, tradução Luciano Trigo, Rio de Janeiro: Odisséia Editorial, 2007, como sempre, inspiradora)

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