Adesão poética ao fascismo

O que leva um poeta a aderir a uma política contrária à arte, contrária à liberdade que a arte poética pressupõe para existir? Muitas são as possibilidades, da falência socialista à afirmação da vontade do Estado, do engajamento interessado à cegueira da vida engajada, mas pode ser algo mais trivial: a estética primitiva do herói que não fundou uma nação e nem se colocou como protomártir da afirmação nacional, a estética canhestra de não saber o que implica o poder admirado irracionalmente, o sorriso amarelo de quem não sabe o que é cultura e que por isso mesmo serve de algoz dessa cultura que desconhece, a estética malformada da ignorância de propósitos maiores na vida para além da adoração da força do homem a serviço do Estado e contra o homem. Gottfried Benn teve do que se arrepender, como tantos outros intelectuais de seu tempo; renascido e consciente, faria a mesma opção hoje? Dúvida sempre haverá. Por que um poeta dessa qualidade aderiu à insensatez? A arte, não o homem, merece perdão.

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