35 anos sem Drummond

É vida o que se escolhe, o que é motivo.
A balada que sustenta o poeta
sustenta o admirador,
mesmo a morte,
se é ela quem lhe dá sentido.

Nos longes de sua imaginação poética
estou à vontade e refeito
do quanto morro a cada dia,
do quanto testemunham essas retinas cansadas.

Amar, verbo em trânsito
das imagens que cultuo em sua poesia,
nos cursos que suas lágrimas abriram
em voçorocas pela alma leitora,
por vidas em sofrimentos
de viver as mortes na família
de amizades angariadas com linguístico sacrifício.
Sofro em seu sofrer.

Não é sua consciência de sofrer que me faz sofrer,
não é sequer a palavra encanecida
e encharcada de pranto
que se pronuncia sem perceber
qual é o seu humano poder,
é a leitura empática
que leva meus olhos a chorar.
E não há nisso nada que não seja entre homens empatia.

É toda sua vida soprada
nas asas de um passarinho
que me diz o que é o sofrer,
é tudo que veio antes
e que lhe foi dito,
que foi em verso vivido,
que fez sua família e construiu suas lástimas,
é o comprometimento da saúde
que faz a morte temer,
são as mulheres e seus amores,
suas dádivas e reclusões em renovadas dores,
as tantas e frustrantes noites,
a sequência dos dias de calor e de frio,
rompendo a capacidade de ardores,
tudo de que ninguém, nem mesmo você, suspeitava.

O seu amor cinquentenário,
tão urbano e consumido,
que faz forte o comum,
como se fosse extraordinário,
lírico encanto para nosso povo.
Ódio ao ódio
para amar sempre mais outra mulher
que encha de saudade seu precioso coração,
feito para neste mundo sofrer
por nós e por sua Helena,
descoberta madura, inteira,
maior em sua maravilha.

Tudo de importante acontece
e sua vida sempre amanhece
e tudo ocorre com a advertência:
não cesse!
Não cesse sua vida,
que todas as demais nutre de esperança,
que às outras faz esperar
que o novo mais uma vez apareça,
que o jardim do povo floresça.

O sol reaparecerá,
não importa que este dia seja triste
e sem festa de aniversário,
não importa que a lua,
por tanto sofrimento,
desanime e se ofereça
à morte dos encantos.
O sol reaparecerá
e a alegria virá.

2 comentários em “35 anos sem Drummond”

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